agora em agosto de 2025 fazem dois anos que saí do Instagram. me excluir (deliberadamente) de uma das redes sociais mais usadas no país tem suas vantagens e desvantagens.
num primeiro momento bate um sentimento de ruptura, uma solidão quase programada, porque nosso cérebro sente falta do estímulo e o estímulo simplesmente não chega mais. a gente tende a apelar pra outras redes sociais e dedicar pra elas toda a carência que o buraco do Instagram deixou. no meu caso, passei uns bons meses no Xwitter, vendo memes duvidosos, bombardeio de notícias e profissionais da minha área discutindo sobre um monte de coisa sem a menor importância.
num segundo momento bate uma paz que a gente nem nota, porque ela vai chegando aos poucos. sabe aquele desconhecido com quem você estudou no ensino médio e com quem nunca trocou mais que três palavras? então. agora seu cérebro não precisa mais dedicar CPU pra processar os stories dele viajando com a esposa pra Bahia. é menos informação desnecessária enchendo seu cérebro! isso sem contar o tempo que sobra… e é justamente desse tempo que quero falar.
o que fazer com o tempo que sobra?
eis a questão: se as redes sociais fossem completamente abolidas, o que fazer com o tempo e o vazio que elas deixariam? a gente ainda sabe viver sem rede social? veja, se isso fosse um texto de autoajuda eu te diria pra largar suas redes e preencher esse tempo com algo produtivo. fazer um esporte, trabalhar enquanto eles dormem, sei lá, abrir uma empresa. mas a verdade é que o trabalhador cansado só quer voltar pra casa e deixar o cérebro derreter.
o que eu percebi nesses dois anos sem Instagram é que a gente tem uma tendência muito louca de preencher cada vazio na nossa vida. e isso tem tudo a ver com nosso sistema e tal. créditos para este breve tweet que resume bem:

e aí, meus amigos, tem de tudo… horas escutando podcast sobre fofoca (alô Picolé de Limão), vídeo de debate no Youtube, reality show… e lá se vai qualidade de vida.
a gente acaba tão estimulado o tempo todo, com nossa balança de dopamina completamente maluca, que a gente não entende porque fica sempre tão cansado e sem energia. é muito difícil não encher nossa mente com lixo!!! particularmente, eu me peguei em várias situações em que me sentia drenada física e emocionalmente depois de muito tempo no celular e acabei refletindo sobre as coisas que iam na contramão disso, e que me faziam bem.
então resolvi compilar tudo a seguir. sem demagogia, frases motivacionais e sem tanta alusão ao óbvio que a gente sabe que dá certo (comer bem, dormir bem e fazer exercício). porque se o óbvio fosse fácil todo mundo faria, não é mesmo?
1. não use o seu tempo de deslocamento pra engolir conteúdo
tá no ônibus? olhe pela janela. desligue a música. tire um cochilo. para além de rede social, é muito comum a gente ouvir por aí que a gente precisa aproveitar momentos considerados “improdutivos” pra aprender, estudar, ler notícia, ler e-mail, se informar sobre a crise econômica mundial, fazer algo considerado “produtivo”. na prática o que acontece é que esse excesso só deixa nossa cabeça cansada ✨
2. use o Whatsapp como um meio e não como um fim
se você usa Whatsapp como uma rede social pessoal (e não profissional), você possivelmente também está em 2983472 grupos, seja de amigos, do trabalho, da faculdade. use o Whatsapp pra marcar encontros com as pessoas! e não pra passar horas e horas mandando meme e desenvolvendo conversas longas que não têm o mesmo nível de conexão por texto que teriam pessoalmente.
3. você não precisa de 7 streamings pra se divertir
a coisa do streaming e do FOMO… o filme que eu quero tá nesse streaming, mas a série tá naquele outro, e semana que vem vai lançar um novo episódio de tal coisa no outro. quando vê, você tá com 7 assinaturas pra ver um monte de conteúdo audiovisual duvidoso. segue autocrítica… uma vez eu passei um fim de semana inteiro vendo reality show de relacionamento e no domingo estava mais cansada que na sexta-feira depois de uma semana inteira de trabalho… infinitos episódios, zero reflexão, apenas overconsume de informação contestável.
a verdade é que nossa atenção é muito poderosa, é nossa principal ferramenta de priorizar o recorte do mundo que faz sentido pra gente. escolha atividades que te ajudem a descansar e não invista horas e horas passivamente em algo apenas pra passar o tempo: a Netflix não precisa ser seu hobby principal. talvez te faça bem e abra espaço pra outras experiências.
4. crie espaços pra falar de você e não só consumir conteúdo alheio
o negócio da rede social é que tudo é sobre o outro. quando a gente não tá consumindo conteúdo dos outros, a gente tá produzindo conteúdo pro outro. nada é pra gente… se fosse, estaria no álbum de fotos do celular, numa pasta pessoal no computador ou num diário na gaveta. é importante reservar espaços da nossa vida pra falar de nós mesmos: de como a gente se sente, quais nossos planos, o que a gente quer e o que a gente não quer. pode ser com amigos, com família, com terapeuta… o importante é que esses espaços existam.
5. entre scrollar eternamente e dormir, durma
não precisamos de pesquisa da USP pra saber que rolagem infinita é uma grande desgraça. francamente. MAS é a realidade. uma simples técnica de design e tchau atenção, olá insônia. se você tem rede social com scroll infinito, recomendo fortemente que você exclua todas. se isso não for uma possibilidade na sua vida, priorize seu sono.
6. consumir todo o conteúdo do mundo não vai te deixar mais inteligente
se você consome conteúdo compulsivamente em uma tentativa de aprender e de fixar temas de estudo (como eu já fiz muito), saiba que existem maneiras melhores e menos agressivas de estudar. é claro que aprendemos passivamente consumindo informação, mas a melhor forma de aprender é sempre praticando, de forma ativa, seja ensinando, discutindo ou escrevendo sobre algo. você provavelmente tem a forma que mais gosta de aprender, e isso é indiscutível. meu ponto aqui é sobre não consumir tanto conteúdo fragmentado e disperso que no fim das contas nosso cérebro nem tem tempo de processar.
7. saia de casa e vá encontrar pessoas
por último e não menos importante, encontre pessoas. sei que dá preguiça, sei que tá todo mundo cansado, sei que é difícil conciliar um horário em que os amigos possam. mas tente. muita gente já fala sobre solidão na hiperconexão que vivemos, e o melhor jeito de se sentir pertencente é o afeto. não dá pra expressar afeto através de bits. na verdade até dá, mas não no nível da complexidade socioemocional que nós, enquanto raça, desenvolvemos por aproximadamente 300 mil anos. valorize a conversa, o abraço, a discussão, o diálogo. a gente chegou até aqui assim… e é assim que a gente vai conseguir energia pra seguir.